23 de jun. de 2011

Quem era João?

ESTUDO DO LIVRO DE JOÃO
Material divulgado pela União Missionária Brasileira

O símbolo do evangelista João é a águia. Com o seu evangelho, João alcançou alturas indescritíveis, deixando para trás tudo o que é terreno, passageiro. Santo Agostinho demonstrou a impressão que esse evangelho lhe causou, nas seguintes Palavras (tradução livre): “Subiu acima de todas as alturas terrenas, de todo espaço do ar, passou por todos os astros, deixou para trás todos os corais e legiões de anjos. Pois, se não tivesse deixado para trás o que fora criado, nunca teria chegado Àquele pelo qual tudo fora criado”.

De todos os evangelistas, a pessoa de João é a mais acessível, tanto pelos evangelhos em si como por farta tradição extra-bíblica. João nasceu em uma família de pescadores. Nada ou pouco sabemos de seu pai Zebedeu - ao contrário da mãe Salomé, uma mulher profundamente religiosa. Encontramo-la entre as seguidoras do Senhor, sendo mencionada várias vezes nos evangelhos. Salomé assistiu a crucificação “de longe” e foi ela que comprou as especiarias destinadas a embalsamar o corpo de Jesus (Marcos 15.40 e 16.1).

Quando o Batista clamou no deserto, João tornou-se seguidor dele e por ele foi batizado no Jordão. Conheceu desde cedo o radicalismo do “Batista”. Destacando-se não somente pela roupagem e alimentação, mas acima de tudo pela sua mensagem, João Batista anunciou “o machado posto à raiz”, isto é: o Juízo iminente; a eliminação dos maus estava à porta (Mateus 3.10).

Dali vem a fascinação do futuro evangelista pelo Absoluto. O período que João passou junto com o Batista lhe servia de preparo para algo maior. Naquela época, João era muito jovem, ainda moço. Na companhia do Senhor, mais tarde, seria conhecido como o mais jovem entre os Doze. Nas pinturas sempre reconhecemos João pela sua pouca idade, pelo seu rosto ainda imberbe e com traços finos.

João nunca esqueceu a hora em que Jesus o chamou. Dezenas de anos mais tarde ainda se lembrou dos mínimos detalhes daquela “décima hora do dia”, isto é: duas horas da tarde (João 1.39). Foi quando o jovem João, junto com seu irmão André, seguiu timidamente atrás de Jesus e este repentinamente se virou e perguntou aos dois moços: “O que vocês estão procurando?”(1.38).

Embaraçados, não sabendo o que responder, gaguejaram: “Mestre, onde moras?”. Naquele momento, Jesus olhou fundo nos olhos de João e este nunca mais esqueceu aquele encontro. Em tudo o que o futuro evangelista escreveria mais tarde, ele usaria o termo “ver” como sinônimo de “compreender na sua totalidade”. O “ver” de João compreende o homem como um todo: com corpo, alma e espírito. Quando já idoso, João inicia sua primeira Carta com as palavras: “... o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida...essas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1.João.1.1/3).

Tudo em João gira em torno da encarnação. Ele a viveu e testemunhou. Não era sempre o discípulo maduro e sereno, como aparece nos seus escritos. Tornou-se “santo” e exemplar somente através de uma vida longa, onde aprendeu a ser transformado. Não era aquela de natureza “tipo feminina”, como a arte gostou de reproduzi-lo. Seu nome, herdado de seu pai, era “filho do trovão”. Seu temperamento, como convém aos jovens, era absolutista.

Os jovens costumam aceitar somente aquilo que corresponde às suas próprias metas. Jesus teve que ensinar-lhe o que significa ter um coração aberto, quando lhe disse: “Quem não é contra nós, é por nós” (Marcos 9.40). Na ocasião, quando o grupo não foi bem recebido numa vila samaritana, o jovem João ficou tão revoltado que sugeriu ao mestre: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?” (Luc.9.54).

Ninguém menos que Elias, o maior dos profetas, era parâmetro para o jovem seguidor. Queria resolver a questão logo, queimando todos aqueles que não os acolheram bem. Tinha que ouvir a repreensão que não esperava: “Vocês não sabem de que espírito vocês são” ou em outras palavras: “Vocês não percebem que não é o Espírito de Deus que vos sugere algo assim?” Para o jovem João era o “tudo ou nada”. Esse, infelizmente, tornou-se por muito tempo o lema da Igreja cristã... e quanto sofrimento, humilhação e vergonha para seu Mestre isso tem trazido!

Mais um incidente ilustra a personalidade do jovem João. Quando sua mãe lançou o pedido para dois lugares especiais em favor de seus dois filhos no Reino de Deus e Jesus lhe perguntou: - “Eles também podem beber o cálice que eu terei de beber”? – o jovem João, sem hesitar, afirmou: “Sim, posso!”(Mateus 20.22).

João teve que amadurecer na escola do Senhor. Começou pouco a pouco a entender o ministério de seu Senhor como uma única e infinita paixão. No jardim Getsêmani, João dormiu também, fugiu também, mas depois, enquanto Jesus sofria, procurava estar o mais perto possível do Mestre, como o único dos Doze.

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