Material divulgado pela União Missionária Brasileira
"(2) Ele estava no princípio com Deus. (3) Todas (as coisas) foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. (4) Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; (5) E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam".
Os versos 1 até 18 do cap. 1 do Evangelho de João são conhecidos como “Prólogo”. O Evangelista define em poucas e elevadas sentenças quem ele reconhece na pessoa de Jesus e o que Este significa para o mundo. O estilo dessa passagem de alto teor poético contrasta com o resto do Evangelho, escrito em grego simples e claro. Esse “poema” fala do “Verbo de Deus” que existiu desde o princípio e sempre foi Deus e se “fez carne” (encarnou) em Jesus Cristo. Nunca mais Jesus é chamado de “Verbo” em outra passagem do Evangelho. É possível que esse “Prólogo”, vindo de outra fonte ou sendo um hino da Igreja primitiva, tenha sido acrescentado pelo autor como um início apropriado ao seu livro, já editado na sua forma inicial (confira estudo Jo 06, quarta observação).
(2) Ele estava no princípio com Deus. Na eternidade passada, “no Princípio”, o Verbo estava com Deus.
Criaturas tornam-se pessoas distintas quando falam. A palavra enunciada por alguém revela e expressa pensamentos, sensações e vontade. Como acontece conosco, quando falamos, estamos nos identificando por palavras e esperamos ser ouvidos.
O Verbo, ou A Palavra (o “Logos”), sempre estava com Deus e agora quer ser ouvida. Quando o autor da Carta aos Hebreus inicia sua epístola aos cristãos de origem judaica, ele diz: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho...” (Hebreus 1.1). Deus falou através da encarnação do Logos Criador.
(3) Todas (as coisas) foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. O autor de João conclui: O “Verbo de Deus”, isto é a “Sua vontade expressa”, está por trás de toda a criação.
O mesmo “Logos” que hoje está por trás de todo o Universo, estava com Deus antes que houvesse Universo, não importando o “quando” dessa criação. Quando o Universo veio a existir, o “Logos de Deus” já existia. O Logos não é criado, Ele é Deus e poderíamos dizer (que os teólogos nos perdoem): é a substância de Deus.
Não há nada existencial, físico ou espiritual, que não seja de origem Divina e criado pelo Verbo, à “expressão da Vontade Divina”, do “sopro”, do “Logos de Deus”.
O salmo 139, escrito há mais de 2500 anos, já proclama que nada há dentro do Universo conhecido e desconhecido que não tenha Deus presente (leiamos os versos 7 a 12):
“Para onde me ausentarei do teu Espírito?
Para onde fugirei da tua face?
Se subo aos céus, lá estás;
se faço a minha cama no mais profundo abismo,
lá estás também;
Se tomo as asas da alvorada
e me detenho nos confins dos mares,
ainda lá me haverá de guiar a tua mão,
e a tua destra me susterá.
Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão,
e a luz do redor de mim se fará noite,
até as próprias trevas não te serão escuras;
as trevas e a luz são a mesma coisa...”
(4) Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
A “Vida”, não vida no sentido da criação, a VIDA “estava” (passado!) nesse “Logos” pré-existente. Vida e Luz aparecem como dois termos condicionais para a criação. Notamos que o verbo está no tempo passado: “estava”. Luz e Vida como representantes do mistério da criação não são somente bens escatológicos (das últimas coisas); são bens protológicos, isto é, bens pré-existentes. Eles são a origem de tudo. A Luz brilhou desde a eternidade. O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, inicia o relato da criação com as palavras: “Disse (Logos) Deus: Haja luz; e houve luz” (Gen.1.3).
A visão de João é universal. Para ele não há religiões ou confissões predestinadas a possuírem Luz e Vida. A luz dos homens... o termo “homem” aparece no sentido judaico, como “pessoas”. O Prólogo fala de “todos” (verso 7); de “todo homem” (verso 9); e de “todos quantos” (verso 12). Esse “Logos Divino” é a Luz para todos os homens. Não há outra origem de Luz. Nenhuma cultura ou religião pode separar-nos da presença do Logos; Em todas as circunstâncias Ele está presente como Luz.
O Prólogo nada fala da caída do homem, do pecado original, do abismo entre Deus e Sua criação. Para João, a Luz brilhou desde a eternidade passada e continua brilhando (o mistério das trevas é um assunto que, em outro contexto, é abordado pelo apóstolo Paulo em 2.Cor.4.3,4.).
(5) E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
A partir do verso 5 João fala do “tempo presente”; da chegada, da revelação do Logos neste mundo. A Luz que brilhava desde a eternidade passada, agora resplandece!
Repentinamente aparece o termo “trevas”. Nada nos é dito sobre sua origem. O Prólogo não está interessado em um dualismo especulativo como a Gnose, por exemplo. Na Gnose, Luz e Trevas são duas realidades em constante conflito. E para a seita de Qumran, os “Filhos da Luz” estão combatendo os “filhos das trevas”.
Nada de um conflito semelhante encontramos no Prólogo. Para João, a Luz brilha, serenamente, a despeito das trevas. Não somente “no Princípio” o Logos estava presente; ela brilha agora, na situação em que a Igreja se encontra.
Agora, a Luz é revelada, manifestada, recebe um nome, aparece na altura da compreensão humana. O apóstolo não tem palavras dignas para expressar sua exultação. Ele inicia sua primeira Carta com a afirmação jubilosa: “... o Verbo da Vida, e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada” (1.João 1.2).
“As trevas não a compreenderam”... A tradução do termo usado por “compreenderam” apresenta alguma dificuldade. Não nos é dito que as trevas não venceram a Luz. Não havia luta e a luz saiu vencendo. Na procura da melhor definição aparece a imagem de uma mão “pegando de cima” a fim de levar ou apagar. A Luz está brilhando e treva nenhuma consegue nem pegar nela, nem se apropriar dela para apagá-la. O propósito de Deus não é alterado ou prejudicado pelas trevas existentes.
Como você entende a ação de Deus no mundo e, especificamente, na sua vida? Você a entende como uma luta entre forças quase iguais, entre o bem e o maligno? Ora ganha um, ora o outro. Você acha que são os demônios que estragam tudo?
Você aceita um conselho? Saiba que a Luz brilha! As trevas não a impedem. Assista menos certos programas “religiosos” da TV e leia mais a Palavra de Deus! Se há algo que impeça a ação de Deus em sua vida, é você mesmo! Pois a Luz resplandece nas trevas e as trevas não se apropriaram dela. A Luz de Deus está presente. Pense nisso!
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