24 de jan. de 2012

João 1:15-18

ESTUDO DO LIVRO DE JOÃO
Material divulgado pela União Missionária Brasileira

“Este é o de quem eu disse: ‘o que vem depois de mim, tem, contudo, a primazia, porque já existia antes de mim’. Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”.

(15) João testemunha a respeito dele e exclama, dizendo: “Este é o de quem eu disse: ‘o que vem depois de mim, tem, contudo, a primazia, porque já existia antes de mim’ ”.

Aos grupos de seguidores do Batista, que meio século após a sua morte ainda viam no seu antigo mestre uma figura messiânica, João volta a lembrar a primazia do Verbo encarnado. Através do “Apocalipse de Adão” (um escrito apócrifo do primeiro século) sabemos do “movimento batismal judaico” que se congregava especialmente no Jordão.

Pelo “Oráculo Sibilino Quatro”(obra apócrifa do fim do primeiro século) conhecemos sua “teologia”. O batismo era um pré-requisito para a salvação. O autor da obra acima exorta “os infelizes (judeus) mortais” a “abandonar a conduta licenciosa” (confira a pregação do Batista) e “a lavar seus corpos inteiros em rios perenes” (SibOr 4.165). Depois desse batismo garante-se o perdão e a aceitação de Deus; os justos serão então ressuscitados para um julgamento que será presidido pelo próprio Deus. Essa era a doutrina dos grupos batistas na época em que o quarto Evangelho foi composto.

O apóstolo João se refere indiretamente a esses grupos, quando aponta no verso 15 novamente para o fato do “Verbo” ter existido na eternidade passada e, portanto, ser anterior ao Batista, fato que o próprio Batista teria reconhecido na época.

Não sabemos se a afirmação do verso 15 vem do próprio Batista ou se ela é uma conclusão do Evangelista a respeito do que ele mesmo viu e ouviu. Lembremos: João conheceu os dois Mestres. Ele estava presente quando o Batista encontrou-se pela primeira vez com Jesus. Era testemunha quando Jesus foi batizado por João. Ele viu como o Batista apontou Jesus a seus próprios seguidores como o “cordeiro de Deus” e essa indicação levou João, antes discípulo do Batista, a abandonar seu antigo mestre e seguir a Jesus (João 1.35-36).

(16) Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Assim como as ondas na praia do mar se seguem, sem fim, uma após outra chegando e esvaziando-se por inteiro, assim provém graça sobre graça da plenitude do Verbo. A Graça não tem fim e não está condicionada. Recebemo-la sem merecê-la. Para João, não existem trevas que, de alguma forma, pudessem limitar a graça.

Você aprendeu a olhar assim a graça que vem de Deus? Ou você conhece “as graças” somente como porções homeopáticas, condicionadas, cujo efeito benéfico depende do seu esforço e que, ao menor sinal de fraqueza de sua parte, podem ser canceladas? Não é assim que João viu a graça vindo da plenitude do Verbo.

(17) Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Até então, a presença de Deus estava condicionada à Lei de Deus. De acordo com a obediência ou a rebeldia a ela, Deus concedia ou retirava Sua graça. Sim, a Lei sabia de misericórdia e de graça, mas elas eram temporais e reservadas aos que andavam de acordo com a Lei.

A entrada do Verbo na história humana colocou o relacionamento do homem com Deus sobre uma base totalmente nova. O fator determinante não é mais a Lei. A Lei conhecia “obediência” e “desobediência”, “bênção” e “castigo”; porém ela não conhecia o “perdão”. A Lei exige observância e, quando essa falha, resta o sacrifício ou a hipocrisia. O hipócrita é a pessoa que quer observar a Lei, mas não o consegue. Então, opta pelo fingimento. A Verdade não pode vir junto com a Lei; ela só pode se tornar realidade quando vem junto com a graça, o perdão.

A Lei foi dada. A graça e a verdade vieram. Na Antiga Aliança os salmistas já cantaram da graça e misericórdia do Senhor. “Bondade e misericórdia certamente me seguirão, todos os dias da minha vida...” (Salmo 23.5). Como posso “alcançar” essa misericórdia, que me segue, conforme diz o salmista?

A encarnação do Verbo, aqui pela primeira vez chamado pelo seu nome “Jesus Cristo” trouxe, a graça e a verdade. A imagem de Deus não mais é determinada pela “Santa Lei”, mas pela “Graça”. Isso significa para você: Para poder relacionar-se com Deus, você é perdoado; recebe Graça. Você percebe? Comunhão com Deus não mais fica restrito aos que são perfeitos. Ela se abre para pessoas falhas como você e eu. Com essa nova base, a Lei não é mais o “tutor” que ameaça com castigo; ela continua perfeita e boa, mas não mais condena. Na pessoa de Jesus, o Evangelista viu essa comunhão perfeita com Deus Pai, onde graça e verdade se tornaram realidade.

Nem a criação (natureza) nem a história humana são capazes de revelar-nos a mente de Deus. Nem a natureza nem a história conhecem perdão; elas funcionam na base de “causa e efeito”; por si sós são cruéis, não conhecem “graça”, portanto não podem revelar-nos a Verdade. A pergunta do “por quê” ficará eternamente sem resposta.

(18) Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.
João escreveu seu Evangelho quando diferentes filosofias e especulações gnósticas com seus mitos procuravam definir o abismo entre o espiritual e o natural. A tese “Ninguém jamais viu a Deus” era comum ao ensino da Gnose. O Deus desconhecido era parte da Gnose. A Lei de Moisés, por sua vez, ensinava que era perigoso procurar vê-lo (Deut.4.11ss). Moisés nunca viu a Deus; a Bíblia diz que Deus falava com Moisés “face a face”, isto é, diretamente, sem intermediário (confira Paulo em 2.Cor.3.7). Deus é Espírito, nenhuma criatura humana pode “vê-lo”. Deus nunca e de nenhuma maneira está “disponível” ao homem. Quem então podia conhecê-lo?

Na íntima comunhão entre Jesus e seu Pai, o apóstolo conheceu um lado de Deus que a Antiga Aliança não podia revelar, pois a base dela era a Lei. João entendeu o que era “graça”, quando o amor do Pai não cessou por causa da cruz. Na revelação dessa disposição até então desconhecida do Pai – amar o que não merece ser amado – ele reconheceu Jesus como parte existencial de Deus. A única comparação adequada ao que ele viu em Jesus era a imagem do Filho eterno com seu Pai.

Não é mais “mito” ou “revelação” o que determina a relação homem-Deus. No seu lugar entrou a experiência da Graça e Verdade na pessoa histórica de Jesus. A “Lei”, interina (provisória, temporal), confiada a Moisés, encontrou na pessoa de Jesus seu cumprimento. A mesma “Palavra” (Verbo”) que estava presente quando Deus chamou o universo a existir (Gen 1.3) entrou na história, visível na pessoa de Jesus.

O apóstolo João conhecia bem as palavras do profeta Isaías. Compare as palavras do profeta com o “Prólogo” do Evangelho de João e que acabamos de estudar. “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Sobre os que habitavam a terra da sombra, brilhou uma luz ... Porque o jugo que pesava sobre eles, a carga de seus ombros, a vara do exator, tu os quebraste... Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. Ele tem a soberania sobre seus ombros e será chamado: Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz...” (Isaías cap.9).

Somente aquele que veio do início pode nos revelar o coração do Pai. Agora podemos conhecê-lo. João escreveu para “o mundo”, isto é, para todos, não somente para Israel. O Verbo revelou-nos um Deus Pai que ama “o mundo” (João 3.16). O “Deus de Israel” havia se revelado “Deus do Universo”. Sua imagem não era mais a de Juiz, ligado à “Lei de Moisés”, mas sim de um Pai que emana “graça sobre graça” sobre qualquer homem ou mulher que clama por Ele, independentemente de sexo, raça, cor ou posição social.
Na Antiga Aliança, Deus não tinha nome que Seu povo podia pronunciar; Seu nome era “inefável” (não pode ser pronunciado pelo homem) e quem se atreveu a pronunciá-lo teve que morrer, pois blasfemou contra Deus (Lev.24.16). O judeu usa atributos Divinos quando se refere a Deus, como “O que salva”; “O que cura”; “O Eterno” etc.

Em Jesus, Deus nos deu um nome pelo qual podemos chamá-lo. Não mais seremos castigados e eliminados ao pronunciar seu nome. “Manifestei o teu nome aos homens...” (João 17.6).

“Abba” (Pai)!

Você pode clamar e será ouvido!

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