Fonte: Terra | 01.03.2011
Um dos filhos do líder líbio Muammar Kadafi, Saif al Islam, negou que o regime de seu pai tenha atacado civis, em uma entrevista à rede de televisão britânica Sky News transmitida nesta terça-feira.
Ouvido sobre se negava categoricamente que o regime atacou a população, respondeu: "Sim, negamos".
"Desafio todos a me mostrar a prova" do contrário, acrescentou o filho mais novo de Kadafi, de 38 anos, nesta entrevista gravada em Trípoli, informando que os jornalistas tinham liberdade para ir a qualquer parte da Líbia.
Saif al Islam reconheceu, por sua vez, que já não havia "exército organizado" no leste do país, mas negou que o regime tenha perdido o controle desta região.
"A autoridade civil ainda está lá e está em contato com Trípoli", afirmou.
"Há um problema no leste, é preciso admitir. Mas o leste só representa 20% do país. O resto está bem", relativizou, quando a revolta entra em sua terceira semana.
"Há alguns grupos terroristas, um número pequeno, em duas cidades. Querem criar seus próprios Estados. Têm uma emissora de rádio, uma pequena milícia, mas não é grande coisa", disse.
"O resto da população, os outros dois milhões de pessoas, não estão com eles", insistiu Saif al Islam nesta entrevista realizada em inglês.
Quando foi perguntado se seu pai tinha a intenção de abandonar o país, foi categórico: "Somos líbios. Eu, pelo menos, sou um cidadão normal. Este é o meu país. Vivemos aqui, morremos aqui. Ir embora? Por quê? Para que?".
"Não temos a intenção de ser a família governante. Disse isso muitas, muitas vezes antes, durante os 10 últimos anos. Precisamos de democracia na Líbia. Mas devemos começar com leis, Constituição, governância local, eleições", afirmou o jovem Kadhafi.
"Agora a prioridade é restaurar a paz e a harmonia", acrescentou.
"Neste momento ninguém está falando de uma mudança de regime porque isso não é uma prioridade para ninguém", afirmou o filho do líder líbio, que se agarra ao poder apesar de exercer sua liderança apenas em Trípoli, seus arredores e em alguns bastiões do árido sul.
Saif al Islam, que residiu na capital britânica enquanto estudava na London School of Economics (LSE), completou um doutorado em Filosofia em 2008 com uma tese intitulada "O papel da sociedade civil na democratização das instituições de governança global".
A Universidade anunciou nesta terça-feira que estava investigando "acusações de plágio" contra ele, poucos dias depois de cortar todos os vínculos com seu ex-aluno e financiador de seus programas.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.
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