Cento e cinquenta anos depois da publicação do polêmico A Origem das Espécies, obra do evolucionista Charles Darwin sofre questionamentos e já não é mais vista como verdade inquestionável
Marcos Stefano
Jornalista da revista Eclésia
Era o dia 30 de junho de 1860 e o público, que lotava o grande auditório da Universidade de Oxford, na Inglaterra, parecia bastante tenso. Apenas um ano antes, o naturalista britânico Charles Darwin havia lançado seu famoso livro A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural e agora estariam reunidos ali duas importantes personalidades para debater a veracidade da nova e polêmica Teoria da Evolução. Darwin assombrara o mundo ao defender que, contrariamente ao que dizem as Sagradas Escrituras, a vida animal e vegetal no planeta Terra surgiu graças a uma fortuita conjunção de fatores naturais, e não por iniciativa divina. E todos os seres vivos mudariam – ou evoluiriam – ao longo de milhões de anos, dando origem a novas espécies. Conceito bastante diferente do texto bíblico, que afirma ter Deus criado todos os seres viventes em apenas uma semana.
Para aquele que se tornaria conhecido como “o grande debate científico da História”, à esquerda, na mesa colocada à frente do público, estava o biólogo Thomas Henry Huxley, um dos mais destacados defensores do darwinismo e, por isso, chamado de “o buldogue de Darwin”. À direita, ninguém menos do que o aclamado bispo anglicano Samuel Wilberforce, a mais proeminente figura da Igreja de sua época. Esperava-se uma resposta esclarecedora e à altura dos cristãos para os novos e “heréticos” postulados. Mas bastou começar o debate para se dar uma reviravolta. “Doutor Huxley” – tomou a palavra o bispo – “Diga-me: o senhor descende de macacos por parte de avô ou de avó?”. A resposta do cientista foi direta e estrondosa: “De modo algum me envergonharia se tivesse um macaco como ancestral, mas ficaria profundamente constrangido se tivesse como avô alguém que, não satisfeito com seu equivocado sucesso na própria esfera de atividade, tentasse responder a questões científicas das quais não entende nada”.
O que se seguiu não foi apenas a ovação de homens elegantes de longas barbas e escuros casacos e respeitadas senhoras com tradicionais vestidos. Foi um massacre que ecoaria pelos próximos anos, até o tempo presente. Bem preparado, o biólogo destruiu um a um os pueris argumentos do religioso. Mulheres desmaiaram, cientistas vibraram e repórteres saíram correndo para redigir a manchetes como “Guerra entre ciência e religião” e declarar a vitória dos evolucionistas sobre o criacionismo. Como resultado, por mais de um século, quem se levantasse para criticar a teoria de Darwin era combatido como um inimigo da razão e taxado como arauto da superstição e da ignorância. Mas agora, um século e meio depois, algo novo parece estar acontecendo. Não propriamente nas igrejas, mas nos bancos acadêmicos e laboratórios de grandes universidades espalhados mundo afora. Cada vez mais cientistas respeitados lançam sérias dúvidas sobre o darwinismo e apontam a Criação como única tese de fato racional para o surgimento da vida.
Não é pouca coisa. No ano em que se comemora o bicentenário de Darwin e o sesquicentenário do lançamento do livro que trouxe a público suas teorias, afirmar a veracidade da história de Adão e Eva e garantir que a vida não surgiu ao acaso, mas é obra divina, faz tremer os alicerces do conhecimento no mundo moderno. O poder da Teoria da Evolução vai muito além da biologia. Influencia a química, a engenharia, a computação, a medicina, a antropologia e quase todas as ciências sociais. Darwin, hoje em dia, é invocado para iluminar assuntos que aparentemente nada têm a ver com a ciência natural, da competição entre empresas no mundo corporativo à culinária regional. Há até quem pense ética e religião do ponto de vista evolucionista. “As contribuições das teses de Darwin estão em todas as áreas. Características como o altruísmo e a monogamia, bastante presentes na religião cristã, são adquiridas por herança pelas gerações. Veja o exemplo de alguns pássaros: eles chamam a atenção de outras aves de sua espécie dando sinais de alerta diante de um predador, correndo eles mesmo grande perigo. Só que não fazem por sentimento moral, mas instintivamente, para preservar a herança genética da espécie e garantir a continuidade da vida”, defende o filósofo Daniel Dennett, autor de A Perigosa Ideia de Darwin (Editora Rocco).
Teoria revolucionária – Para entender melhor a questão, é preciso se aprofundar um pouco mais no efeito daquilo que foi dito por Darwin e por cientistas que, nesses 150 anos, deram continuidade e aperfeiçoaram seus estudos. O pensamento de que todas as formas de vida na Terra são aparentadas entre si e descendem de formas ancestrais comuns, que tiveram início há 4,5 bilhões de anos, causaram o mesmo tipo de revolução que a descoberta de que nosso planeta, na verdade, é redondo, gira em torno de seu próprio eixo e do Sol provocou em uma sociedade que acreditava que o mundo era o centro do Universo, plano como um campo de futebol e sustentado sobre os ombros de um gigantesco titã. “Como Copérnico e Galileu, Darwin mudou a ciência. Comprovou o tempo geológico em milhões e bilhões de anos, não somente em pouco mais de 5 mil anos”, aponta, por sua vez, Nelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, a USP, e autor do livro Darwin – Do Telhado das Américas à Teoria da Evolução (Odysseus Editora).
“Ele mostrou que o ser humano é resultado de pequenas modificações ao longo de gerações, mudanças aleatórias, confirmando que a natureza não é perfeita como tantos imaginam. Graças a seu trabalho, sabemos que 99,9% das espécies que já existiram foram extintas”, continua o estudioso. Segundo Bizzo, até a Teologia foi influenciada pela obra darwiniana. “Ele nunca disse que Deus não existe, mas mostrou que o mundo é inacabado e está em constante transformação”, aponta. “O planeta em que vivemos não foi criado tal como existe hoje e Deus não fica cuidando de cada detalhe, o que ajuda a entender porque existe tanta fome, guerras e sofrimentos, apesar de um Deus tão justo.”
Se tudo isso é correto, como explicar tamanha relutância em aceitar a evolução como um fato? Nos Estados Unidos, país que dispõe de algumas das melhores universidades do mundo, detém metade dos cientistas premiados com o Nobel e registra mais patentes que todos os seus concorrentes diretos somados, uma em cada duas pessoas vê o darwinismo como enganação. Mesmo na Inglaterra, país natal de Darwin, um em cada quatro habitantes não acredita que o homem seja produto de milhões de anos de mutações aleatórias. Para o biólogo norte-americano Stephen Jay Gould, um dos mais notáveis teóricos evolucionistas do século 20, o problema não estava em as teorias de Darwin serem mal compreendidas pela complexidade que apresentam, mas porque muita gente, devido a suas crenças e preconceitos, evita compreendê-las.
Há algum tempo, isso bem poderia ser real, mas não atualmente. Um grupo de cientistas, conhecidos como criacionistas, tem apontado sérias lacunas na Teoria da Evolução, mostrando o quanto ela carece de provas conclusivas e, portanto, deve ser encarada como teoria, e não como fato, como querem forçar alguns acadêmicos e boa parte da grande imprensa. Acontece que os estudiosos que defendem o caráter científico de relatos bíblicos são geralmente tratados com má vontade e desmerecidos em sua competência acadêmica.
Volta ao mundo – Em 1831, quando Charles Robert Darwin embarcou no pequeno HMS Beagle, um navio de exploração científica de 27 metros da Marinha britânica, a situação era muito diferente. Religioso, Darwin, então com 22 anos, preparava-se para se tornar pastor da Igreja Anglicana. Mas a possibilidade de participar de pesquisas em exóticas florestas pelo mundo o fez interromper os planos ministeriais. Cheio de expectativas e poucas certezas, Darwin serviria de acompanhante ao capitão do barco, o aristocrata Robert Fitzroy. A viagem se estendeu por quatro continentes e durou nada menos que cinco anos. Passou pela Argentina, contornou a Terra do Fogo, chegou aos Andes. No Brasil, ele visitou o Rio de Janeiro e a Bahia e maravilhou-se com a biodiversidade da Mata Atlântica, mas ficou chocado com a escravidão. Até sua volta à Inglaterra, havia recolhido 1.529 espécies até então desconhecidas em frascos com álcool e manteve quase 4 mil espécimes preservados, entre répteis, anfíbios, insetos, aves, mamíferos e variadíssima coleção de vegetais.
Mas o ponto alto da expedição foi sua passagem pela Ilhas Galápagos (hoje pertencentes ao Equador), no Oceano Pacífico, em 1835. Ali, ele fez as observações que o levariam a formular a Teoria da Evolução. A variedade das formas de vida que encontrou deixou-o boquiaberto. Para o autodidata Darwin, as diferenças entre os animais insulares e aqueles que viviam no continente – como uma espécie de tentilhão que, em Galápagos, tinha o bico bem mais longo e forte que os de terra, o que, para ele, era uma prova de adaptação ao ambiente, menos farto em alimento – eram decorrentes do processo da seleção natural, pelo qual os mais fortes e equipados sobrevivem, transmitindo as mutações benéficas às gerações posteriores.
“Darwin acertou no varejo, mas errou no atacado”, garante o jornalista Michelson Borges, editor da Casa Publicadora Brasileira, editora pela qual publicou o livro A História da Vida, e pesquisador criacionista. Segundo os pesquisadores que acreditam que a vida foi criada por Deus, como ele, não há dúvida de que os organismos sofrem modificações através do tempo. Mas essas variações têm um limite que as impedem de se transformar em novas criaturas. Para explicar melhor isso, alguns recorrem ao texto bíblico, que afirma ter Deus criado apenas um casal humano no princípio. Dotado de grande variabilidade genética, esse único casal deu origem a todas as etnias humanas hoje existentes, todas com possibilidade de cruzamentos férteis entre si. O mesmo pode ter se dado com os animais. Um único casal de cachorros teria dado início às tantas e tão diferentes raças que vemos hoje. O que não significa que uma criatura como o Australopithecus afarensis, um alegado ancestral humano que teria vivido 3,5 milhões de anos atrás, que passaria batido ao lado de alguns macacos no zoológico hoje, poderia sofrer tantas mutações e se diferenciar a ponto de dar origem ao homem moderno.
Um dos argumentos mais fortes usado por criacionistas como Borges para defender essa tese é as muitas lacunas no registro fóssil. A coleta de fósseis – os restos e vestígios de animais e plantas antigos que foram preservados em rochas, no gelo, em sedimentos e em âmbar, a seiva das árvores cristalizada –, já na época de Darwin, mostrava-se problemática. Nunca ficou evidente a lenta modificação dos traços entre animais prevista pela teoria. As espécies, já completas, aparecem repentinamente. Não são encontrados fósseis de transição. “A ausência desses ‘elos perdidos’ é uma forte evidência de que nunca aconteceu essa evolução de seres unicelulares e pouco complexos para os multicelulares e altamente desenvolvidos da atualidade”, destaca Borges.
Design inteligente – Sejam quais forem os argumentos contrários, os evolucionistas costumam desqualificar os argumentos criacionistas rotulando-os como religião. Mas ambos os lados concordam que, no começo da vida, as condições físicas eram muito diferentes da Terra atual. O próprio Darwin afirmou que a vida teria começado espontaneamente no momento em que uma sopa primordial de elementos químicos, submetidas àquelas condições primitivas, produziu pela primeira e única vez uma molécula replicante. A partir de então, tudo foi formado por mudanças graduais. Hoje, os cientistas não conseguem recriar a vida a partir de uma poça de água e alguns elementos químicos – o que acreditam ter ocorrido no passado. “Precisamos deixar claro que o criacionismo não é uma teoria científica. Partimos daquilo que a Bíblia diz para fazer ciência e demonstrar coisas como o tempo da vida no planeta ou o dilúvio universal”, ressalva o engenheiro Ruy Carlos de Camargo Vieira, professor da USP e presidente da Sociedade Criacionista Brasileira. “Mas a realidade é que o evolucionismo também não é ciência pura. É um modelo, uma estrutura conceitual impossível de ser comprovada cientificamente, que parte de uma visão de mundo preliminarmente aceita, no caso, o materialismo filosófico”. No final, conclui Vieira, as duas vertentes interpretam as mesmas evidências e chegam conclusões distintas. “A aceitação de uma ou de outra é sempre uma questão de fé – no planejamento ou no acaso”, sentencia.
“A teoria de Darwin pode explicar cascos de cavalos, mas não os alicerces da vida”, diz o bioquímico Michael Behe, professor da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, Estados Unidos, e autor do livro A Caixa Preta de Darwin (Jorge Zahar Editor), um dos livros-chave para se entender outra vertente criacionista: a do planejamento ou design inteligente. Diferente do criacionismo bíblico, os adeptos do design inteligente não especulam sobre a existência de um Criador ou sua intenções, apenas constatam a complexidade dos seres vivos e sugerem que ela só pode ter surgido com um planejamento. A prova seria a estrutura minuciosa dos sistemas celular e molecular, verdadeiras máquinas cujas partes independentes estão tão estreitamente interligadas que a ausência de um único componente é o bastante para impedir que funcionem. É isso que cientistas como Behe chamam de “complexidade irredutível” e que inviabilizaria a tese de que mudanças graduais formaram esses sistemas ao longo do tempo, de acordo com a seleção natural.
O bioquímico compara esses sistema a uma ratoeira: ela só consegue pegar o rato se todas as suas partes – plataforma, trava, martelo, mola e barra de retenção – estiverem perfeitas e ativas. É diferente de um automóvel que pode funcionar com faróis queimados, sem as portas ou parte da carroceria. Órgãos como o olho humano e o sistema de coagulação do sangue seriam os exemplos mais evidentes desse modelo. “Custa crer que essa engenharia cheia de detalhes e encaixes únicos e precisos surgiu ao acaso e deu tão certo, sendo montada aleatoriamente ao longo de milhões de anos”, aponta Behe.
“A Evolução faliu” – Outro bom exemplo de planejamento inteligente na criação vem do reino animal. É o besouro-bombardeiro, apelidado de “o besouro de Deus”, um discreto inseto que passa a maior parte de seu tempo escondendo-se entre raízes de árvores ou debaixo de pedras. Sua forma de defesa é bastante peculiar. O corpo do animal possui duas bolsas com substâncias químicas que explodem quando misturadas – o peróxido de hidrogênio e a hidroquirinona –, mas não tem efeito algum quando mantidas separadas. As duas bolsas distintas mantêm as substâncias separadas até que o besouro precise juntá-las para se proteger. Mas, nesse momento, entra em cena uma segunda capacidade do inseto: ele possui um revestimento de amianto em seu “caldeirão”, estrutura onde mistura os reagentes químicos. Esse revestimento impede que a explosão destrua o corpo do besouro ao ser projetada para fora. Como expele o material em pulsações gotejantes pequenas e contínuas, o bichinho não é morto pelo processo. Cada uma dessas capacidades representa uma probabilidade matemática inferior a uma em um milhão de ocorrer por acaso. Ao somar as três, os criacionistas defendem a obra de Deus e quão impossível que tais minúcias tivessem surgido aos poucos e ao acaso.
“O artista sempre deixa marcas em sua obra, seus atributos, seu estilo, sua forma e estratégias para resolver problemas. Como na vida tudo é química, as assinaturas químicas do Criador são inúmeras e podem ser vistas hoje com grande nitidez por todo o lado”, opina o professor Marcos Nogueira z, coordenador do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas da Universidade de Campinas (Unicamp) e terceiro cientista brasileiro mais citado em publicações científicas de renome. Atualmente, Eberlin estuda uma dessas assinaturas, a homoquiralidade. “Existem moléculas que diferem umas das outras apenas pela disposição tridimensional de seus átomos – é como se fossem uma a mão direita, outra a esquerda. Essas moléculas apresentam a imensa maioria de suas propriedades físico-químicas idênticas, sendo extremamente difícil separá-las ou prepará-las com alta pureza”, explica. A tendência natural seria então que essas moléculas fossem formadas e estivessem sempre juntas, em misturas iguais, no corpo humano, a começar pelos aminoácidos. Mas o que Eberlin descobriu foi algo diferente. “Os aminoácidos no corpo humano são todos de um mesmo tipo, o L, como a mão esquerda. Quem separou os aminoácidos L e D? Quem decidiu usar somente os LL?”, questiona o químico.
Para o pesquisador, não dá mais para dizer que o peixe se aventurou pela terra seca, virou réptil, voou e tornou-se pássaro, para daí originar um mamífero. “Esses conceitos são baseados na ignorância”, critica. “A comparação correta precisa ser feita a partir do nível molecular, bioquímico”, destaca ele, para quem a Teoria da Evolução simplesmente faliu. “Ela não encontra mais, no conhecimento científico moderno, apoio para suas teses, e mantém-se apenas pela força da propaganda, da retórica e pelo monopólio de publicações e meios de comunicação. Mas seus dias estão contados”, prevê.
Vida recente – Contar os dias, tarefa que no Salmo 90 é mencionada como indício de sabedoria, também é uma das mais duras divergências entre evolucionistas e criacionistas. Para os defensores de Darwin, o Universo teria 13,7 bilhões de anos e a Terra, uns 4,6 bilhões. A vida seria quase tão antiga também. Mas os criacionistas, apesar de divididos quanto à idade das rochas, não têm dúvidas: a vida no planeta é recente, talvez com até menos de 10 mil anos de existência. Para alegar isso, vários deles criticam os métodos de datação utilizados e afirmam que as colunas geológicas no solo não se formaram ao longo do tempo pela lenta deposição de sedimentos, mas rapidamente, em uma grande catástrofe, que inclusive foi registrada na Bíblia: o Dilúvio (veja a próxima reportagem).
Para tanto, os defensores do criacionismo apostam na continuidade das pesquisas e em novas descobertas. Enquanto o darwinismo conta com quase dois séculos de pesquisas, a ciência da Criação é muito recente, ganhando impulso de fato a partir da década de 1980. Mas enquanto as polêmicas e disputas ainda perdurarem, pelo menos em um aspecto o criacionismo se mostra muito mais qualificado que o evolucionismo: o de explicar o sentido da vida. Enquanto adeptos das teses de Darwin alardeiam que a descoberta dos mecanismos da evolução enfraqueceu o único bom argumento disponível para a existência de Deus e atacam quem disso discorda, os cientistas da Criação têm certeza de que, como foi há alguns séculos com Kepler e Isaac Newton, fé e conhecimento experimental podem andar de mãos dadas – e responder de maneira convincente as três questões que mais inquietam a humanidade: de onde viemos, o que fazemos aqui e para onde vamos.
Tormentos do Capelão do Diabo
É como confessar um crime.” Foi com essas palavras que Charles Robert Darwin publicou, em 1859, A Origem das Espécies. O trabalho, na verdade, começou a ser escrito 21 anos antes. Não lançou antes porque sabia do potencial explosivo de suas idéias na sociedade vitoriana conservadora do século XIX. E também por se considerar um membro dessa sociedade. Quando jovem, antes de embarcar no Beagle para a viagem de cinco anos que mudaria sua vida, Darwin fazia planos de se tornar pastor na Igreja Anglicana.
Mesmo depois do périplo pelo mundo e até os últimos anos de vida, manteve a fé. Nunca declarou que a Bíblia estivesse errada. Mas o peso daquilo que dizia e escrevia o atormentava. Na apresentação de A Origem das Espécies escreveu: “que livro um Capelão do Diabo poderia escrever sobre os desajeitados, dispendiosos, enganosos, baixos e horrivelmente cruéis trabalhos da natureza”.
Esse sentimento era intensificado pela esposa, Emma, mulher bastante religiosa. Ela temia que, por causa de suas ideias, Darwin fosse para o inferno após a morte e ela para o céu, condenados a passar a eternidade separados. O medo ficou ainda mais forte depois da morte da filha Annie, aos 10 anos. O impacto da morte da menina apagou o que restava da fé cristã do naturalista, que se declarou agnóstico.
Muitos pastores e pregadores adoram descrever uma suposta cena em que Darwin teria abraçado uma Bíblia em seu leito de morte e, em prantos, pedido perdão a Deus por ter falado heresias. Isso nunca aconteceu. Segundo os biógrafos Adrian Desmond e James Moore, autores de Darwin – A Vida de um Evolucionista Atormentado (Geração Editorial), o pai da Teoria da Evolução até chegou a suspirar no leito de morte a expressão “Oh, Senhor!”, por conta das enormes dores que sentia. Mas não disse nada além disso.
A máquina de brincar de Deus
Cem metros abaixo da superfície, na região de Genebra, fronteira entre Suíça e França, está para começar aquela que é apontada como a mais importante experiência científica de todos os tempos. Nas instalações da Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (Cern), físicos, engenheiros e pesquisadores colocaram em funcionamento o mairo acelarador de partículas do mundo, o LHC (sigla para Large Hadron Collider). A máquina é um túnel com 27 quilômetros de extensão. Em seu interior, os cientistas pretendem acelerar feixes de hádrons, um tipo de próton, partícula subatômica com massa, a velocidades inéditas e bastante próximas da velocidade da luz. Então, com a ajuda de um poderoso imã, obrigá-las a mudar de direção e se chocar. Tudo para criar explosões que simulem àquela que teoricamente teria dado origem ao Universo: o Big Bang. A intensidade das pancadas deve gerar partículas nunca vistas antes. Inclusive, um certo bóson de Higgs, que seria a responsável pelo surgimento da matéria no começo de tudo. Não à toa, está sendo chamada de “partícula divina” e o LHC de “máquina de brincar de Deus”.
O experimentos começaram em outubro, mas tiveram que ser adiados desde então por conta de uma falha no aparelho. “Estão falando muitas coisas, como viajar no tempo, provar a existência de Deus e de outras dimensões e até destruir o mundo ao formar um buraco negro. Tudo isso é besteira. Queremos explorar novas possibilidades em condições inéditas”, explica o físico Sérgio Novaes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do grupo de cientistas brasileiros ligados ao projeto. Na mesma direção vai o físico brasileiro criacionista Adauto Lourenço: “A teoria do Big Bang mostra que, logo após a explosão inicial, imperaram leis físicas estranhas e desconhecidas, impossíveis de serem reproduzidas. Mas comparo as novas possibilidades às primeiras pesquisas com o elétron há 100 anos. Ninguém sabia bem o que fazer com elas naquele tempo, mas hoje viraram a base da eletricidade e da eletrônica”.
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